A
última vez que nos vimos, ela me falou que o prazo de validade do seu coração
estava vencido, o médico já havia lhe comunicado o pouco tempo restante, e eu
lhe disse pra viver e aproveitar bem cada momento como se fosse o último. Nessa
ocasião rimos bastante com as lembranças de tempos idos, nem parecia que
estava tão perto de nos deixar.
Não
consigo lidar bem com essas perdas, são dolorosas demais...
Maria
José Mendes Lira, Bebé, como era conhecida por todos, foi a minha professora de
Português na adolescência (7ª e 8ª séries) e uma amiga muito querida desde
então.
Lembro-me que senti um misto de acanhamento e alegria quando, certo dia,
ela me pediu pra fazer a revisão do seu artigo final da especialização. Falou-me do orgulho que sentia por ter sido minha professora e da grande admiração que tinha por mim, pois sua pupila
havia se tornado a sua mestra.
Bebé
dedicou sua vida ao magistério e à família. Foi uma excelente professora; rigorosa
e exigente, sem ser grosseira ou intransigente. Foi com ela que aprendi a
respeitar e a valorizar a nossa língua portuguesa. Dentre muitas outras coisas,
aprendi que devemos evitar mistura de tratamentos, vícios de linguagem, excesso
de gírias; aprendi a fazer requerimentos, memorandos, ofícios, portarias etc.,
ou seja, redação oficial, coisa que muitos professores universitários e
gestores não têm a mínima noção de como fazer. Eu tinha 14/15 anos quando
aprendi tudo isso e, de lá pra cá, fui apenas aprimorando meus conhecimentos,
sem jamais esquecer quem plantou as primeiras sementinhas, quem despertou em
mim o cuidado para não cometer crimes contra o nosso idioma - a minha querida
professora Bebé.
Como amiga, era tão divertida, uma pessoa ímpar, especial mesmo. Sua partida prematura deixa-nos a todos órfãos (ex-alunos, amigos e parentes).
Recebi a triste notícia hoje
cedo, mas meu coração insiste em não aceitar. Como
dói...
Jandira.
(Imagem Google)