A minha avó era uma mulher forte, bonita, decidida, espirituosa, cheia de vitalidade e muito divertida (tão cheirosa!). Também era voluntariosa, braba, geniosa, enfim, tinha seus tantos defeitos como qualquer outra pessoa. Mas como avó, para mim (a netinha predileta), foi a melhor avó do mundo. Ai, que saudade...
Eu adorava ouvir as histórias que contava, especialmente, a sua maneira muito peculiar de se expressar que sempre me encantou. Que coisa linda! Achava aquele seu vocabulário tão interessante que até hoje guardo grande parte dele na lembrança, como se guarda um tesouro. Minha avó era analfabeta, descendente de uma mistura de escravos com portugueses. Nossa família é mesclada de negros, brancos e “meladinhos” (era assim que ela denominava os filhos e netos moreninhos - ou pardos).
Minha avó me levava às missas e procissões, às festas, ao médico, ao posto de vacinação, à feira, aos circos, aos parques de diversão; viajávamos de trem para pagar promessas na cidade de São Severino dos Ramos-PE, ou para visitar sua irmã em Aliança-PE, era demais!.
Ah, no quintal da casa dela havia um pomar e uma horta onde eu passava horas brincando de casinha, criando estórias ou músicas que se perderam no tempo, subindo nas mangueiras, fazendo bichinhos de barro ou com um vegetal parecido com um pepino que chamávamos de "bucheira", e um outro frutinho conhecido por "galinha-de-melão". Enfim, quando eu estava naquele quintal maravilhoso, era um mundo só meu... bom e simples.
Amo a minha vovó, e não uso o verbo no pretérito porque, de fato, continuo a amá-la e a sentir a sua presença sempre por perto. Inclusive, muitas vezes me peguei conversando mentalmente com ela, mas fui aconselhada a parar com isso e deixá-la descansar em paz. Éramos tão apegadas, por isso essa prática mental involuntária. Parei! Mesmo sob protesto (cá pra nós, às vezes ainda sinto o seu cheirinho gostoso). E o que fazer com essa saudade tão grande?
Jandira.
Jandira.