quarta-feira, 23 de junho de 2010

LENDO O OUTRO: A LEITURA DO CORPO

Este é um tema vasto e muito estimulante, inclusive até já escrevi um pouco a respeito, em novembro do ano passado. A linguagem do corpo é uma maneira emblemática de se comunicar. Comumente nem percebemos, mas o nosso corpo denota o que de fato estamos pensando e sentindo. Ou seja, através do corpo refletimos o caráter, os conflitos íntimos, traumas e emoções - alegria, raiva, ansiedade, dor, tristeza, cansaço, frustrações, prazer, enfim, a linguagem do corpo desnuda a nossa personalidade. Wilhem Reich ilustra bem isso na seguinte frase: “O corpo é o inconsciente visível”.

Costumo observar o comportamento dos seres vivos, em especial o do ser humano, e de certa forma, através da leitura corporal tenho conseguido decodificar o que se passa na mente das pessoas. Em seu livro O Corpo Fala?, o psicanalista José Ângelo Gaiarsa afirma que “a linguagem corporal é a mais primitiva forma de comunicação entre os animais”, e continua: “Um observador atento consegue ver no outro quase tudo aquilo que o outro está escondendo - conscientemente ou não. Assim, tudo aquilo que não é dito pela palavra pode ser encontrado no tom de voz, na expressão do rosto, na forma do gesto ou na atitude do indivíduo”. Segundo ele, “se o corpo não falasse, a palavra não teria sentido, justamente porque ele sinaliza intenções, mostra emoções, assume atitudes, faz mil gestos e mil caras”. E uma das suas afirmações mais interessantes é a seguinte: “Aquilo que de mim eu menos conheço é o meu principal veículo de comunicação”.

Realmente, o nosso corpo é um dos meios mais claros de comunicação, e nem precisamos ser alfabetizados para ler o outro, é necessário apenas um mínimo de atenção para se fazer essa leitura. Através de gestos e atitudes o corpo mostra o que realmente está se passando em nosso âmago.

Durante a apresentação de um seminário, incorporei a belíssima crônica Ler o mundo, de Affonso Romano de Sant’anna, que começa com as seguintes frases: “Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Depende de quem lê. (...) Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. (...)”. Diante de tamanha beleza e profundidade, senti-me completamente imbuída pelas palavras do autor, por isso, ao declamar aquele texto/poesia naquele momento, viajei encantada “para além das palavras”, como se expressou Clarisse Lispector em seu livro Água Viva: “Encarno-me nas frases voluptuosas e ininteligíveis que se enovelam para além das palavras. Lemos com o corpo todo, nosso corpo linguageiro.

A propósito, isto é apenas um breve resumo das minhas considerações acerca do tema - Lendo o outro: a leitura do corpo.

Jandira.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

ELE DEIXOU UM GRANDE VÁCUO

Hoje faz 29 anos que o meu pai fez a grande viagem, foi habitar outras dimensões. Depois de tanto tempo, a dor da perda física já não incomoda tanto, mas a saudade...

Meu pai era um homem reservado, caladão, muito sério. E mesmo não sendo uma pessoa grosseira e violenta, de certa forma aquele seu jeito sisudo criava uma barreira invisível entre nós, os filhos, talvez até pela enorme diferença de idade. Às vezes dizia umas “loas”, umas piadas, e ria tanto, chegando a engasgar-se (eram raros esses momentos).


Absolutamente o oposto da minha mãe, que até hoje é dinâmica, com uma sede inesgotável de adquirir conhecimentos e muito apressada (quer tudo pra ontem!), meu pai não era afeito a movimentos, era tranquilo até demais. E assim viu a vida passar..., sem pressa. Para ele os prazos não tinham a menor importância, pois o tempo era apenas um detalhe. Enfim, era um cidadão pacato, de bom coração e sem grandes aspirações.

Sinto muita falta do meu pai, daqueles olhos de um azul brilhante, profundo, os mais belos olhos azuis que já vi. E como gostaria de voltar no tempo para dizer a ele que o amava muito e que lamento demais pelos altos papos que não tivemos; os grandes abraços que deixamos de trocar e as inúmeras palavras de carinho que, por conta da nossa timidez e daquela barreira invisível, ficaram presas na garganta com receio de sair.

Ao menos o azul do céu ficou mais bonito ao misturar-se com o lindo azul dos seus olhos, meu pai. Sua saída de cena deixou um grande vácuo no meu coração, mas sua imagem continua muito viva em minha alma. Saudades...

Jandira.