terça-feira, 24 de novembro de 2009

"LEIDA" - A CONTADORA DE "ESTÓRIAS"

No texto anterior, falei da alta rotatividade de pessoas que trabalharam em nossa casa durante a minha infância. Eram pessoas bem diferentes no modo de lidar com crianças: umas mais pacientes, outras menos cuidadosas, umas mais simpáticas, outras sisudas, enfim, cada uma com seu jeito peculiar de ser.

Josileide Targino, a nossa “Leida”, destacou-se como a mais divertida e criativa de todas. Enquanto lavava pratos ou passava roupa, por exemplo, conseguia prender a atenção de seis crianças contando historietas, fábulas, filmes e novelas que havia assistido ou situações vividas. A maneira entusiasmada como falava das coisas simples do seu cotidiano tinha algo de fantástico, e assim nos mantinha quietos e atentos (éramos excelentes ouvintes também!). Lembro-me do enorme orgulho com que falava do seu irmão “Capelense”, que fora jogar num time de Portugal... Poxa! Parecia tratar-se de nosso irmão!

“Leida” tinha pouco estudo, mas costumava ler fotonovelas, jornais, revistas, gibis (sempre em voz alta e “catando milho”). Todavia, apesar dos tropeços e gaguejadas, gostávamos muito de ouvi-la. Aliás, a leitura era um hábito comum em nossa casa e, às vezes, isso contagiava os outros que conviviam conosco também. Ah! Não tínhamos aparelho de TV, apenas um rádio antigo que passava o dia inteiro ligado. Lembro das tantas vezes em que dançávamos e cantávamos ao som do velho rádio, e “Leida” era a mais animada. A alegria era geral, uma festa! Ai, que saudade...

Tomar conta de uma casa com seis crianças pequenas para cuidar, fazer as tarefas domésticas e ainda conseguir prender a atenção dessas crianças sem deixá-las sair pra rua, tudo isso de forma divertida e prazerosa, só a super “Leida” fazia.

Por onde andará a nossa querida “Leida”? Não tenho a menor ideia. Faz tanto tempo... Perdemos o contato, mas nunca a esqueceremos, pois ela marcou a nossa infância com a sua alegria. Beijão pra você, garota!

Jandira.
nucoli@yahoo.com.br

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

“CICIA” - UM DOS ANJOS DA MINHA INFÂNCIA

Minha mãe sempre trabalhou muito e, por isso, precisava de alguém que a ajudasse a cuidar da casa e dos seis filhos pequenos. Minha tia querida ajudava bastante, mas era apenas uma menina e não podia assumir tamanha responsabilidade. Assim, sempre tinha alguém trabalhando em nossa casa.

Muitas pessoas passaram em nossas vidas: Cecília, Chiquinha, Cacilda, muitas Marias, Leida, Elza, Lourdes, Sílvia, Nenem, Zuleide, Fátima, Helena, Lili, Graça, Naná, Zélia, Valdenice, Tereza, Lúcia e muitas outras. Era alta rotatividade mesmo, pois bastava uma queixa nossa (devidamente comprovada, claro!) para a minha mãe trocar de auxiliar. Assim como uma leoa, ela defendia os filhotes com unhas e dentes, não admitindo maus tratos ou que nossa educação fosse desvirtuada (aliás, ainda hoje minha mãe continua uma “leoa”).

Sem dúvida, porém, a mais especial de todas foi Cecília, um anjo adorável que viveu muitos anos conosco, recheando a nossa infância de doçura, afeto e dedicação. Tratava-nos com tanto carinho, como se fôssemos os filhos que nunca teve.

Era uma mulher simples, castigada pelas durezas da vida, de meia idade (talvez), baixinha, pele queimada do sol, sem a mínima vaidade, mas sempre com um sorriso no rosto. Solteira, sem instrução, sem família (nenhum parente ou amigo), sozinha no mundo, apenas com sua fiel companheira Baleia, uma cadela baixeirinha, roliça, com os olhinhos bem atentos e sempre por perto.

“Cicia”, como a chamávamos, era um verdadeiro poço de paciência, dedicação, ternura e delicadeza. E não exagero ao afirmar que ninguém mais, além da minha mãe (que é muito mais que demais!), cuidou de mim com tamanha paciência, carinho e atenção como ela.

Lembro-me tanto do seu olhar doce, sua voz meiga, suas mãos calejadas, mas cheias de suavidade e cuidado ao lavar e desembaraçar meus cabelos longos, por exemplo, para que eu não sentisse desconforto (sempre tive o couro cabeludo dolorido). E essa dedicação toda era partilhada igualmente com cada um de nós, como só uma verdadeira mãe faz.

Sempre penso em Cecília com muito carinho, amor, gratidão e saudade. Para mim ela é um símbolo de desprendimento, de amor-doação, pois dedicou sua vida toda aos outros (incluindo seus bichinhos - Baleia e outros cãezinhos que vieram depois). Tenho certeza que a nossa “Cicia” está iluminando o firmamento com sua luz angelical.

Jandira.
nucoli@yahoo.com.br

sábado, 14 de novembro de 2009

COMUNICANDO

A comunicação é uma das aptidões do ser humano com um leque formidável de possibilidades. Podemos nos comunicar de várias formas – através da fala, da escrita, das artes, dos sinais, dos gestos, dos movimentos e até do silêncio.

Aliás, todo o nosso corpo “fala”, mas nem todas as pessoas conseguem “ouvi-lo”. Um sorriso pode até camuflar o que estamos pensando ou sentindo, mas os olhos denunciam a verdade da alma, mesmo quando se tenta escondê-la.

A mulher, em especial, é muito perspicaz (deve ser o tal do sexto sentido); é capaz de captar informações no ar, ler nas entrelinhas, ouvir o silêncio, decifrando cada gesto, cada movimento e, ao juntar tudo isso com uma palavra solta aqui, outra ali, consegue montar o quebra-cabeça. O homem, em geral, é mais distraído, não costuma ter paciência de observar com a mesma destreza e atenção.

Observadora constante que sou do comportamento humano (são décadas de observação), não exagero ao dizer que, por estar sempre tão “antenada”, muitas vezes consigo “ver” o que o outro está pensando. É a lógica! Por isso, também, já não me surpreendo tanto com certas coisas que incomodam... Como dizem algumas pessoas, “faz” parte!

Jandira.
nucoli@yahoo.com.br

sábado, 7 de novembro de 2009

O PODER DAS PALAVRAS

A palavra tem um poder incrível, extraordinário. Uma única palavra é suficiente para levar alguém ao ápice ou ao fundo do poço; uma palavra pode construir ou destruir uma relação de amor, de amizade ou de qualquer outro tipo; pode encher o coração de alegria ou feri-lo profundamente.

A palavra doce alimenta e enleva a alma; a amarga envenena e entristece; a suave alegra e acalma; a dura machuca, fere e até mata. As palavras podem provocar um orgasmo ou um suicídio; podem ajudar ou atrapalhar; elevar ou derrubar; podem ter um efeito curativo ou devastador.

Às vezes, até na brincadeira as palavras podem causar danos como dor, mágoa, desgosto, aflição, constrangimento etc. Por isso, antes de proferirmos as palavras, precisamos pensar bem e medir as consequências do que vamos dizer. Devemos ter muito cuidado com quem, quando, como, onde e o que falamos, pois cada pessoa recebe as palavras de forma diferente, de acordo com o estado de espírito e o momento.

Confesso (e como me arrependo!) que já magoei pessoas queridas com palavras duras (mesmo sem baixar o nível). Na verdade, naquele momento o meu objetivo era que minhas palavras funcionassem como um “tratamento de choque”, capaz de sacudir, de despertar aquelas pessoas, na tentativa de resgatá-las do estado de estagnação e cegueira em que viviam. Não deu certo! O resultado não foi o esperado com todos e em alguns casos culminou em ressentimento, entristecendo-me sobremaneira.

Também já fui e, vez por outra, ainda sou atingida com palavras que magoam, ferem, entristecem meu coração. Aliás, dependendo de quem partem, a dor é bem maior. Portanto, ao articularmos as palavras, é necessário que sempre tenhamos tato, sutileza e bom senso, imprescindíveis em todas as relações humanas.

Jandira.
nucoli@yahoo.com.br